A pesquisa a partir da experiência e da razão

A Intercom lançou como tema de seus congressos uma pergunta bastante provocativa: Quem tem medo da pesquisa empírica? O tema faz pensar, como problema central, sobre os caminhos da pesquisa científica na área de comunicação. Remonta às discussões sobre a construção do conhecimento no século XVIII quando entraram em conflito os filósofos que defendiam o empirismo e os racionalistas. Evidentemente que o pensamento contemporâneo é sucedâneo de Emanuel Kant e sua crítica da razão pura. O conhecimento é possível pela conjunção entre matéria, proveniente dos sentidos, e forma, que são as categorias do entendimento. A priori não se obtém um conhecimento, mas pode-se saber quais são as categorias segundo as quais o conhecimento é formulado, segundo as leis da razão. Kant aceita a premissa humana de que todo conhecimento ocorre a partir da experiência, mas, para existir, não precisa tão-somente da experiência. A análise da forma pela qual aquilo que é dado na experiência, é organizado em relações que constituem conhecimento. Estas são as categorias do entendimento, determinadas pela razão pura e que, sendo preenchidas pela matéria proveniente da experiência, podem formar um conhecimento.

Ao propor essa discussão em congressos, a Intercom sinaliza para a área sobre a necessidade de superar a velha dicotomia entre o campo dos profissionais, pragmáticos, e os teóricos em comunicação. Como disse o professor José Marques de Melo (2011), ao apresentar o tema para a Intercom, esse conflito latente entre os praticantes dos ofícios comunicacionais e seus pesquisadores acadêmicos vem produzindo equívocos semânticos, como, por exemplo, a desqualificação do adjetivo "empírico", convertido em antônimo de "teórico". O conflito tem criado obstáculos e estigma para aqueles que se propõe aliar conhecimento a experiência e a razão. Não raro a pesquisa empírica tem sido rotulada como anacrônica, instrumental e mecanicista.

Desde a sua fundação, a Intercom tem procurado o diálogo entre "empíricos" e "teóricos", buscando superar essa falsa dicotomia. Os textos reunidos neste Anais, por ocasião do XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste, representam uma parte desse rico diálogo entre pesquisadores fundamentado no pluralismo de idéias. São papers, relatos de pesquisas, artigos e trabalhos experimentais que, provavelmente, irão estimular novos estudos e pesquisas que levem em consideração o dados empíricos obtidos em campo.

Nosso agradecimento à equipe de professores e alunos do Centro Universitário Cesmac, e demais parceiros que tornaram possível a realização do Congresso na Região Nordeste. O trabalho e a dedicação da coordenação local permitiu a Intercom promover mais uma vez um debate pluralista capaz de inspirar novas formas de percepção do processo em que todos nós estamos empenhados: compreender a comunicação na sociedade contemporânea.


Nelia Del Bianco
Vice-presidente da Intercom
Coordenadora Nacional dos Congressos Regionais


 
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